quarta-feira, 18 de abril de 2018

Entenda que não é porque todo espinho sustenta uma flor
que toda dor vai sustentar um amor.
18 notas

Eu tento seguir em frente
Mas a cada passo que dou
Parece que uma parte minha se quebra
Eu vou terminar isso em pedaços
E sozinha
Não tera ninguém para juntar meus pedacinhos
Esse é o meu medo.
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada. Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito.

eu quero te beijar
até decorar seu idioma
eu quero aprender tua língua
e decifrar
todos os teus sintomas
eu quero me saciar na tua pele
com o sal que te habita
eu quero ser o teu calor
e a razão
do que te excita
02:46 AM
Você já se sentiu assim? Quebrada por dentro, como se nada no mundo pudesse te deixar inteira de novo?
Começo a rabiscar. Sim, rabiscar, pensei nessa palavra o dia inteiro. Escrever talvez seja pretensioso demais: já pressupõe que o que sai dos dedos vá ser bom ou fazer sentido. Rabiscar é um pulo, é um tiro, é um risco. Vários riscos. Então, rabisco. Falo um pouco de mim, quem sabe. Faz tanto tempo que não rabisco assim, sincero, de coração. Dia desses, uma amiga alegou sentir falta – disse que meus textos a faziam sentir saudade de coisas que não viveu. E, às vezes, escrevê-los me fazia sentir assim. Era um ato de honestidade da mais pura ordem, um ato de libertação. Passei depois a me esquivar de como sentia, a fazer pose. O texto era uma construção de uma faceta do que queria mostrar, até para mim mesmo. Algo planejado, arquitetado, como as janelas de um prédio. Não era rabisco, era escrita travada. Como redação em colégio. E eu, na minha pequenitude, também fui escrita travada. Fui forma decorada, prevista, rígida. Fui padrão social. Fui estereótipos com os quais nunca me identifiquei, e isso mata a essência. Mata a alma. Me senti desrespeitado e minha resposta a isso foi me desrespeitar. Então, percebo que sou isso – e com isso não sei o que o mundo irá fazer, mas até agora tenho sobrevivido e vivido em alguns momentos. Escolhi morar nesse apartamento pelos momentos de calma que ele me traz. Pela vista da cidade e da lua que tem a janela da sala. Pelo silêncio cheio de pensamentos quando estou sozinho aqui. Lembro-me que o achei quase sozinho, só com a ajuda de algumas indicações de amigos. Percebo o homem que venho me tornando. Percebo que, mesmo tendo sido desacreditado em quase toda a vida, consegui. Um monte de coisa. Moro na cidade que quis morar, faço o curso que quis fazer, escrevi o livro que quis escrever. Amei como quis amar. Agora, o que me falta e o que procuro – é ser como quero ser. Porque sou livro de Machado de Assis, sou citação de Descartes em francês. Sou bom dia e gesto carinhoso, e abraço e risada alta. Sou doce, sou gentil, e nisso não há problema. Quem não gosta que se vá: há quem fique. Quem me menospreza, que fique um pouco mais e veja que assim as coisas funcionam. E a quem não entende, que eu odeie o pecado, não o pecador. Agora olho esse horizonte. Amo horizontes, como quem me segue em redes sociais pode perceber. Amo essa sensação de infinitude. Essa sensação quando esquecemos que vamos morrer, quando esquecemos que o mundo acaba, quando esquecemos as bordas e limites. Quando, por alguns instantes, nada pode nos incomodar – e a realidade se submete à poesia. Não há barulho de trem, pista de carros ou festa em rua que estrague um horizonte. É só olhar, e tudo se apaga. Todos os sons se atenuam. Todas as preocupações se amenizam. É no horizonte que nasce a vontade do desbravador, essa ideia de Cabral, de ser aquilo que sempre se quis. De buscar aquilo que sempre sonhou. Sem medo. Sem pesar.
“Não importa quantos planos traçamos, ou quantos passos seguimos, nunca sabemos como o dia irá acabar.”
É deprimente perceber que hoje a única coisa que nós temos em comum é que dividimos o mesmo céu, fique atenta viu a todo sol e chuva, outono, verão e inverno.

talvez você seja um dos milhares de passos apressados entre o metrô e a catraca. talvez tenhamos dividido o corredor essa manhã, quem sabe até esbarrado um no outro. você é um espectro pela cidade, te vejo em cada canto até olhar de novo e você não estar. depois de tanto tempo ainda é seu rosto que eu procuro na multidão.
Coisas do passado, são alegres quando lembram novamente as pessoas que se amam.

uma hora a gente cansa de procurar,
se conforma,
senta na varanda de casa e espera o tempo passar.
a gente nunca sai inteiro de nada
sempre fica uns pedaços da gente espalhados pelo caminho.
Tudo, exatamente tudo me lembra você. Passaram-se os anos e eu tentei de todas as formas te esquecer, até mesmo me convenci disso, porém, aqui está você de novo, presa em meus pensamentos. Não acredito que ainda te amo, bem que disseram que o “Os laços que criamos permanecem para sempre”, custava ao menos me ensinar a desatá-los?